terça-feira, 12 de dezembro de 2023

PARA MEMÓRIA FUTURA NASCIMENTO E VIDA DE DOM FERNANDO O CASTELÃO



PRÓLOGO


Era uma terra pacata
De gente boa e gente sensata.
O seu Castelo altaneiro
Fazia inveja ao mundo inteiro.
As mulheres tratavam da casa
As crianças na rua a brincar
E os pais ocupados a trabalhar.
As meninas vinham à janela
Ver os rapazes passar!
A Vila, de seu nome Penela
Tinha pouco para contar.
Mas tudo vai ser diferente!...
Numa casa de bom ambiente
Um nascimento acontecia,
Iria dar muito que falar.
E é a partir desse dia
A história que vou contar!








I Acto – O NASCIMENTO E A INFÂNCIA



            
Paulo, vai a correr chamar a vizinha!
Vai, não perguntes nada!
Diz para vir preparada
Que o nascimento já se adivinha.
Agora não posso, estou a jogar ao pião!
Vai depressa meu malandro,
É o nascimento do teu irmão!
Paulo nem queria acreditar!
Já tinha duas irmãs,
Mas com elas não queria brincar.
Queria que fosse um irmão
Para com ele jogar
Ao berlinde e ao pião!
Iria tratá-lo com muito amor.
Até já pensava oferecer-lhe um tambor…
Paulo correu, correu pelas ruas de Penela.
Chamou toda a gente que estava à janela.
Chamou o padeiro
Chamou o leiteiro
O sapateiro e o merceeiro.
Chamou o Hilário
Chamou a florista
O boticário e o exorcista.
Chamou a parteira e o irmão
Também o padre e o sacristão!
E por fim, estava lá em casa a vila inteira.
Alguns vestidos à maneira.
Todos preparados para a festa
Para ver se o puto nascia desta.
E no ano de 1936,
Precisamente no dia 26
Dum bonito mês de Maio
Finalmente nasceu o catraio!
O irmão cumpre a promessa:
Parte o mealheiro com todo o vigor
E foi comprar a toda a pressa
Um grande e bonito tambor.
Toda a vila estava em festa!
Um arraial com gente rica e gente modesta.
E ao som daquele tambor
O povo dançou até o sol se pôr.
E no meio daquela alegria
Ninguém se lembrou nesse dia
Que o tinham de registar
E também um nome lhe dar!
Alguém alvitrou sem gozo
Que por nascer na Primavera
E de tão belo que ele era
Chamar-lhe Fernando como o Formoso.
E só dois dias depois
Lá foram todos ao Registo
Testemunhar que tinham visto
Na Freguesia de São Miguel
O nascimento nesse dia
Do menino Fernando Rafael.
Assim, a 28 foi registado
E por todos testemunhado
E a verdade ficou oculta
Para que o pai não pagasse a multa.
Os anos vão passando
E depressa o menino Fernando
Começa a andar
E deixa de mamar.
Só pensava no seu bombo, só queria era bombar!
Por vezes também brincava com as irmãs e o irmão.
Jogava à bola, ao berlinde, às casinhas e ao pião.
Mas a cabeça dele não estava ali não senhor
A cabeça dele estava sempre no tambor!

 


                                   
Fernando! Dizia-lhe sua mãe:
Já fizeste os deveres da escola?
Ele respondia sem abrir a sacola:
Eu já sei tudo minha mãe,
Eu sei mais do que ninguém!...
Ele lá saber, sabia…
Mas o pior era a caligrafia!
Na escrita era um horror,
Pegava na caneta como se fosse o tambor!
Como naquele tempo só passava quem sabia
E assim não havia quem o passasse
Para aperfeiçoar a caligrafia…
Fernando repete a 4ª classe.

Era franzininho, um lingrinhas
Mas pior que um pilha galinhas!
Todo o mal que na vila acontecia
Era ele que o fazia.
Não! Não era ele! Ele jura.
Mas a verdade é que tudo tinha a sua assinatura!
Quando o pai o castigava
Ele não chorava, cantava!...
A Guarda Republicana
É que dele não teve dó
E quando apanhou o sacana
Espetou com ele no xilindró.
A mãe não gostou, desatou a chorar
E antes do pai chegar
Lá teve que o ir buscar!
Mas nem ele se arrependia
Nem a prisão de emenda lhe servia!
A mãe dizia à vizinha:
Ó Dona Mariazinha,
Não sei o que fazer ao rapaz!...
É uma coisa muito estranha
Quanto mais açoites apanha,
Pior ele faz!...


E agora a irmã mais pequena
Parece dele não ter pena
Ainda mal sabe falar
Mas quando o pai regressar
Vai logo a correr para o acusar!...
Deixe lá isso, vizinha!
Ela é pequena e inocente
A Senhora não tem culpa
Um dia, arrependida e já velhinha
À frente de toda a gente
Ao irmão irá pedir desculpa…

Os dias passam iguais
E achando que havia vinho a mais
Na pipa do seu avô,
Fernando sem hesitar
Abriu a torneira do pipo
E deixou o vinho pelas ruas a jorrar!
Muitos açoites apanhou naquele rabo!...
Mas aquilo não era gente, era o diabo
O próprio diabo em pessoa
Nascido de gente boa.
Os pais não o conseguem acalmar
E pedem a Deus para o ajudar
E como Deus escreve direito por linhas tortas
Oferece-lhe uma nefrite
Que o acalma até ao limite.
Como em Penela não há cura para a maleita
Ruma então para Coimbra de mala feita.
Lá iria ser bem tratado
Do mal que Deus lhe deu,
Entraria para o Liceu
E seria orientado
Nos estudos e na educação
Pelos tios, Deolinda e Abegão.



Como no liceu só havia matulões
Que lhe batessem e lhe dessem empurrões,
E disso os tios tinham medo,
Resolveram então mandá-lo
Estudar no Colégio São Pedro!
Mais calminho, lá ia estudando
E os conselhos dos tios escutando.
A caligrafia continuava um horror
Mas cada vez tocava melhor no seu tambor.

Termina aqui a infância em toda a plenitude
De Fernando de Oliveira Rafael.
Irá gastar muita tinta e papel
Os anos seguintes da sua juventude.
Para trás ficou muito amor e alguma dor
Mas seguirá sempre pela vida fora
Carregando desde o romper da aurora
O seu querido e inseparável tambor.







II Acto – A JUVENTUDE E O RESTO


                         
Depois de tantas tropelias
Fernando vê sua infância passada.
Algumas tristezas muitas alegrias
É o fim da vida airada!
Há muito tempo deixou a escola
Era agora um rapazola
Com sua voz já mudada!
O diabo ainda o chamou…
Mas ele dizia: Não! Por aí não vou,
Essa vida não leva a nada!
Bom!... Dizia mas não fazia!
E como tem um coração mole
Perde-se agora de amores
Pelos jogos de futebol.
Um vício, um ai Jesus!
E resolve trocar o liceu
Pelo campo de Santa Cruz.
Para jogar tinha pouco jeito
Chutava torto, pouco a direito!
À baliza nem pensar,
Nunca defenderia uma bola que viesse pelo ar!...
Mas finalmente descobre o seu grande valor,
Na bancada, como espectador!...
E é tão grande o seu amor
Que quase esquece o tambor.
Os estudos iam ficando para trás.
E naturalmente como rapaz
Já começa então a olhar
Para as garotas que via passar!
Cada nome era adicionado
A uma já extensa lista
Mas seu coração estava guardado
Para um amor à primeira vista!
Vai mirando esta e aquela
A umas pisca o olho, a outras ele dá trela
Mas namoros não aceita.
Ele sabia que nenhuma era aquela
A tal, a que seria a eleita!
Foi então que Fernando viu
E uma dor no peito sentiu
Uma miúda bem giraça.
Tinha que saber a sua graça!
É uma beleza nunca vista
Vai logo para o topo da lista!
E com sabedoria régia
Arranja logo a estratégia:
Para engatar a pequena
Irá aproveitar a verbena
Que iria acontecer
Para a juventude se entreter.
E lá lhe arrastaria a asa
No baile, bem perto de casa
Onde é hoje o Centro Norton Matos.
Fernando calça os seus melhores sapatos
Vê-se ao espelho, não estava nada mal
E dirige-se então ao local.
Arranja a gravata
E com grande lata
Pergunta à miúda se quer dançar.
Ela depois de o mirar,
Aceita!
Ele, lá se ajeita
E no fim de cada tema
Ele adopta como lema
A mão dela não largar!
Assim, ele terá a certeza
Que toda aquela beleza
Dele não vai escapar!
Mas a noite já vai alta
E da música nem sentem falta.
E dançam, dançam sem reparar
Que está um lindo luar.
   


Ainda não são namorados
Mas mantêm-se agarrados.
Então, Fernando Rafael
Com toda a coragem do mundo
E sem perder um segundo
Sem pensar no que dizia
Pede-lhe namoro naquele dia.
E não é que a pequena
Até o foi aceitar?!...
Ele nem queria acreditar!
Só lhe apetecia cantar
Pelas ruas da cidade.
E tamanha era a vaidade
E grande a sua alegria
De tão contente que estava,
Que pelos caminhos por onde passava
A toda a gente dizia
Que finalmente namorava
A formosa Celeste Maria

Ó pá! Dizia o amigo
Como é que namora contigo?
Tu não és gajo para ela!
Sou, tenho a certeza!
E toda aquela beleza
Gosta tanto de mim, como eu gosto dela!
E ele não se enganava
Pois ela também dele gostava!

Celeste Maria estudava
E além disso ainda ajudava
Seu pai, com arte e sabedoria
No laboratório de fotografia.
E quando começa a namorar
Fernando também quer ajudar!



Ele, o futebol não esquecia!
E por vezes o que fazia
Era ir ao campo durante o dia!
À noite chegada a altura
Ia namorar na câmara escura!...
Mas quando o pai de Celeste aparecia
A luz da câmara acendia
Eles não estavam a fazer nada…
Mas a fotografia ficava velada!

Entretanto, Celeste Maria
Começa a reparar
Que Fernando não se vai safar
No que respeita a caligrafia.
A caneta era a preceito
Mas ele pegava-lhe sem jeito!
Ela, resolve pegar na caneta
E explica-lhe como se faz.
Ele faz uma careta
E diz que não é capaz!
Era malandro o rapaz
Isso está bom de ver
Dizia não ser capaz
Para ser ela a escrever! …

E nos intervalos da escrita
Lá iam esmaltando
Recortando
Carimbando
E embalando
Tudo o que a Celeste Maria
Lhe ensinou de fotografia!
Era uma vida regalada
Todo o dia com a namorada.
Às 9 horas, quando a porta da loja abria
Já Celeste Maria sabia
Que Fernando à sua espera lá estaria!



Com o namoro de Celeste e Fernando, 
Assim os dias vão passando!
Mas o pior estava para vir
Coisa a que ele não podia fugir.
É chamado para a tropa.
Andou a saltar de quartel em quartel
De Cabo Miliciano a Furriel
Do RAL2 a Santa Margarida,
Mas aquilo não era vida,
Não era aquilo que ele queria
Só desejava a casa regressar
Para ver a Celeste Maria
E poder passar o dia
Com ela a namorar!
Mas no meio do azar
Teve muita sorte com certeza
Por um ano que não foi parar
À Índia que era ainda portuguesa!
Celeste Maria anda triste
Uma tristeza que não merece
O seu amor não lhe assiste
Mas ela não o esquece!
E antes de ele regressar
Da imposta vida militar
Mata-se então a estudar.
E como se fosse seu calvário
Sem nenhuma reprovação
Completa com distinção
O curso do Magistério Primário.
Fernando, acabado o serviço militar
Regressa então a casa mas já não vai estudar,
Desiste da boa vida e decide ir trabalhar.


Mas ele anda muito calado
Nunca ninguém o viu tão acabrunhado
Não presta atenção a nada
Só pensa na sua amada.
Corria o ano de 1961
E no dia 19 de Março
Pensou: Já sei o que faço!
Decide que será nesse dia
Que irá pedir a mão de Celeste Maria.
Para ficar com um ar mais elegante
Veste o seu traje de estudante
E assim vestido à maneira
Segue para a casa do Sr. Ferreira.
É o próprio que lhe abre a porta
Ficando a olhar para aquele janota.
Fernando, diante de tão imponente figura
Diz com voz segura:
Venho pedir a mão de sua filha!
Sr. Ferreira naquele momento
Nem acreditava no descaramento
Do rapaz que à sua frente
Lhe pedia a filha como nubente.
Mas com a educação que o caracterizava
Diz-lhe: Eu já desconfiava,
Para vires assim pimpão
E todo vestido à maneira
Não queres que te dê só a mão,
Tu queres é a filha inteira!
Realmente Sr. Ferreira
Logo vi que já sabia
Mas levar a filha inteira
Era mesmo o que eu queria.
Decidir sozinho Sr. Ferreira não quer.
Por isso resolve chamar a mulher:
Ó Rosa, anda cá se faz favor
Está aqui o rapaz do tambor
Que me diz com muita firmeza
Querer levar a nossa princesa.



D. Rosa, que tinha chegado da novena
Ouviu tudo com calma serena.
E com toda a sabedoria do mundo
Resolve o problema de fundo:
Ó homem, se disso não podemos fugir
É melhor que seja ela a decidir.
Celeste Maria, anda cá
Tu gostas deste estudante?
Gosto sim, meu pai,
Um amor flamejante!
Então que hei-de eu fazer
Eu vos dou a minha bênção,
Sigam o vosso caminho
Trata-a com muito carinho
Com amor e muitos afectos
E não esqueceis que um dia
Eu quero ter a alegria
De ver os primeiros netos.
O Senhor pode ficar descansado
Eu amo-a tanto como por ela sou amado!

Celeste é em Cantanhede colocada
Aí, os meninos ela irá ensinar.
Fernando segue-lhe a peugada
E no ano seguinte decidem casar.
Dos pais já tinham a bênção
Mas ainda não podiam casar
Sem a devida autorização
Do Dr. Oliveira Salazar!
Após autorização concedida
De solteiros fazem a despedida
E sem mais nada para impedir
Ao altar vão subir!
Um casamento abençoado
Numa festa sem igual
Devidamente celebrado
Pelo famoso Padre Aníbal.


Traçam juntos os seus destinos
Em Coimbra ninguém os vê.
Celeste a ensinar os meninos
Fernando empregado nos CTT…

Ele agora anda calminho
E pede a Celeste Maria
Para lhe ensinar com carinho
Como aperfeiçoar a caligrafia!
Ela, agora com o curso do Magistério,
Sente-se preparada, sem segredos nem mistério!
E lá iam de vez em quando
Sempre com grande paixão
Com a caneta ensaiando
Umas vezes no tinteiro
Outras vezes na mão!...

Fernando já se sente preparado,
Melhor do que ninguém,
Por vezes fica muito admirado
Como é que já escreve tão bem!...
Então, na sua melhor escrita
E com uma letra bem bonita
Juntamente com a Celeste
Escreve duas cartas de mestre.
Foi uma cegonha que ali passou
Que pegou nas cartas e as levou!
Levou, mas regressou
E como resultado dessa escrita
De forma bem natural
Ficam com a família mais bonita
Adicionando um bonito casal.

Considerando as devidas ressalvas
A tudo se entrega com muito amor.
Do famoso Clube Os Marialvas
É convidado e aceita ser Director



Mas as saudades de Coimbra
Começam também a pesar.
E ao fim de 20 anos
Resolvem então regressar.
Mantêm as profissões
Embora noutro lugar!
Fernando por mérito e seus próprios meios
Fica Chefe numa Estação dos Correios.
Em Coimbra a trabalhar
Fernando vai arranjar
Uma outra grande paixão
Que lhe dá muita satisfação:
Sempre pronto para passeios
Entra num Grupo dos Correios
Para cantar, dançar e representar!
E é tal a sua paixão
E tamanha a sua lata
Que quando o filho lhe disse:
Meu pai, eu vou casar!
Nem penses, muda a data
Que nesse dia eu tenho que actuar!

Mas o homem não pára
Precisava de um sedativo
Ele é hiperactivo.
E durante 6 anos sucessivos
Com os cantares em acumulação
No CNM faz parte da direcção. 
Com rasgo de imaginação
Para os dançarinos amantes
Organiza matinés dançantes
Que são a delícia de velhadas
E a oportunidade para as encalhadas.

Aproveitando as férias e a cantoria
Agarra na Celeste Maria
Resolve conhecer o mundo:
Coimbra, Ceira
Açores e Madeira.
Para longe também investe:
Chipre, França e Bucareste.
Nos países nórdicos também anda
Vai da Noruega à Irlanda.
Com animação sempre em alta
Também foi a Gozo e à Ilha de Malta.
Mas não julguem que foi fácil
Viajar daquele jeito!
É que aquele homem de peito feito
Borra-se todo, é um cagão
Quando anda de avião!
Mas ainda não acabou
A história deste, agora, avô!
Não satisfeito com estas coisas todas
Entra para a Tuna Meliches
Que esteve para se chamar Tuna me…
Mas o padre não deixou!...
Aquilo é malta fixe
Mas muito, muito brejeira
Levam tudo para a brincadeira
E ninguém lhes leva a mal
Mesmo quando dizem comer
As renas do Pai Natal…

Na Tuna, Fernando reaparece
Com a paixão que jamais esquece:
O seu querido e amado bombo
Que carrega sempre ao ombro.
As mulheres, dele não tiram os olhos
Não do Fernando, mas do bombo de Lavacolhos! 
Aquilo é que é um bombo
Feito de pele de carneiro e do lombo!...
Mas Fernando Rafael um dia,
Acabada a animação
No meio daquela alegria
Pousou o bombo no chão.
Distraiu-se por um momento
E sem nenhum consentimento
Aproveita-se logo um sabujo
Para lhe gamar o dito cujo!
Ficou triste, desesperado
Muitas lágrimas ele chorou!
Andou por todo o lado
Aos amigos perguntou
Se alguém o tinha encontrado
E se por acaso o guardou!
Para esquecer suas penas
A todos faz telefonemas
Muitos e-mails e cartas escreveu
Mas de nada lhe valeu,
O bombo nunca mais apareceu!
Finalmente acreditou
Que alguém com ele se alambazou!
De lágrimas nos olhos
E cansado de esperar
Acabou por ir comprar
Um outro a Lavacolhos!
Diz ele:
Este agora está bem guardado
A mim ninguém mo gama
Vai comigo para todo o lado
E até o levo p’rá a cama!

Os dias lá vão passando
Muito calmos para o gosto de Fernando
E para resolver esse mal
Tem uma ideia genial
Invade a sua terra natal
Tal como os nossos antepassados
Conquistaram o mundo de caravela
Fernando Rafael não manda recados
E toma de assalto o Castelo de Penela!
Ficou com o título merecido de Castelão
E Celeste, a Castelã, título que leva por tabela!



Dom Fernando de Oliveira Rafael
Um eterno sonhador, um marido fiel 
Um Homem de bem
Amigo do seu amigo
E com a certeza vos digo
Não odeia nem é odiado por ninguém.
Persistente, desistir jamais!
Luta sempre pelos seus ideais.
Se não o fizesse nunca seria ninguém.

Com muita força de vontade
E com a ajuda da sua cara-metade
Consegue sem quaisquer loas
Reunir em várias festas, mais de 300 pessoas.
A elas chamou: Grandes Encontros de Gerações
Onde há muita alegria e grandes emoções!
Sempre conciliador
Mesmo quando lhe roubam o tambor
Como homem de bem
Não culpa ninguém!



EPILOGO


É este o Homem generoso e honrado
Trabalhador, esforçado,
Honesto e brincalhão
Marido, pai, avô, de grande coração!
Ama Coimbra e nasceu em Penela
E esta minha homenagem singela,
Que leio para toda a gente
Escrita no melhor papel
É fruto da minha amizade recente
Com Fernando de Oliveira Rafael.

Estamos hoje aqui reunidos
Festejando o seu aniversário.
Já são 80 bem medidos
Pouco falta para o Centenário
E nessa altura aqui estaremos
Para mais uma festa de arrombo
E bem alto ouviremos
Dom Fernando com o seu bombo!

Mas hoje peço a todos vós
Que unamos a nossa voz
E nesta hora festiva
Que se dê um forte viva
A este nosso amigo fiel
Dom Fernando de Oliveira Rafael.




Com um cordial abraço do Casal Amigo,
Alfredo e Daisy


segunda-feira, 23 de maio de 2016

A TERNURA DOS OITENTA...desde o seu nascimento...de Fernando Rafael

II Acto - A Juventude e o restao

II Acto – A JUVENTUDE E O RESTO


                         
Depois de tantas tropelias
Fernando vê sua infância passada.
Algumas tristezas muitas alegrias
É o fim da vida airada!
Há muito tempo deixou a escola
Era agora um rapazola
Com sua voz já mudada!
O diabo ainda o chamou…
Mas ele dizia: Não! Por aí não vou,
Essa vida não leva a nada!
Bom!... Dizia mas não fazia!
E como tem um coração mole
Perde-se agora de amores
Pelos jogos de futebol.
Um vício, um ai Jesus!
E resolve trocar o liceu
Pelo campo de Santa Cruz.
Para jogar tinha pouco jeito
Chutava torto, pouco a direito!
À baliza nem pensar,
Nunca defenderia uma bola que viesse pelo ar!...
Mas finalmente descobre o seu grande valor,
Na bancada, como espectador!...
E é tão grande o seu amor
Que quase esquece o tambor.
Os estudos iam ficando para trás.
E naturalmente como rapaz
Já começa então a olhar
Para as garotas que via passar!
Cada nome era adicionado
A uma já extensa lista
Mas seu coração estava guardado
Para um amor à primeira vista!
Vai mirando esta e aquela
A umas pisca o olho, a outras ele dá trela
Mas namoros não aceita.
Ele sabia que nenhuma era aquela
A tal, a que seria a eleita!
Foi então que Fernando viu
E uma dor no peito sentiu
Uma miúda bem giraça.
Tinha que saber a sua graça!
É uma beleza nunca vista
Vai logo para o topo da lista!
E com sabedoria régia
Arranja logo a estratégia:
Para engatar a pequena
Irá aproveitar a verbena
Que iria acontecer
Para a juventude se entreter.
E lá lhe arrastaria a asa
No baile, bem perto de casa
Onde é hoje o Centro Norton Matos.
Fernando calça os seus melhores sapatos
Vê-se ao espelho, não estava nada mal
E dirige-se então ao local.
Arranja a gravata
E com grande lata
Pergunta à miúda se quer dançar.
Ela depois de o mirar,
Aceita!
Ele, lá se ajeita
E no fim de cada tema
Ele adopta como lema
A mão dela não largar!
Assim, ele terá a certeza
Que toda aquela beleza
Dele não vai escapar!
Mas a noite já vai alta
E da música nem sentem falta.
E dançam, dançam sem reparar
Que está um lindo luar.
   


Ainda não são namorados
Mas mantêm-se agarrados.
Então, Fernando Rafael
Com toda a coragem do mundo
E sem perder um segundo
Sem pensar no que dizia
Pede-lhe namoro naquele dia.
E não é que a pequena
Até o foi aceitar?!...
Ele nem queria acreditar!
Só lhe apetecia cantar
Pelas ruas da cidade.
E tamanha era a vaidade
E grande a sua alegria
De tão contente que estava,
Que pelos caminhos por onde passava
A toda a gente dizia
Que finalmente namorava
A formosa Celeste Maria

Ó pá! Dizia o amigo
Como é que namora contigo?
Tu não és gajo para ela!
Sou, tenho a certeza!
E toda aquela beleza
Gosta tanto de mim, como eu gosto dela!
E ele não se enganava
Pois ela também dele gostava!

Celeste Maria estudava
E além disso ainda ajudava
Seu pai, com arte e sabedoria
No laboratório de fotografia.
E quando começa a namorar
Fernando também quer ajudar!



Ele, o futebol não esquecia!
E por vezes o que fazia
Era ir ao campo durante o dia!
À noite chegada a altura
Ia namorar na câmara escura!...
Mas quando o pai de Celeste aparecia
A luz da câmara acendia
Eles não estavam a fazer nada…
Mas a fotografia ficava velada!

Entretanto, Celeste Maria
Começa a reparar
Que Fernando não se vai safar
No que respeita a caligrafia.
A caneta era a preceito
Mas ele pegava-lhe sem jeito!
Ela, resolve pegar na caneta
E explica-lhe como se faz.
Ele faz uma careta
E diz que não é capaz!
Era malandro o rapaz
Isso está bom de ver
Dizia não ser capaz
Para ser ela a escrever! …

E nos intervalos da escrita
Lá iam esmaltando
Recortando
Carimbando
E embalando
Tudo o que a Celeste Maria
Lhe ensinou de fotografia!
Era uma vida regalada
Todo o dia com a namorada.
Às 9 horas, quando a porta da loja abria
Já Celeste Maria sabia
Que Fernando à sua espera lá estaria!



Com o namoro de Celeste e Fernando, 
Assim os dias vão passando!
Mas o pior estava para vir
Coisa a que ele não podia fugir.
É chamado para a tropa.
Andou a saltar de quartel em quartel
De Cabo Miliciano a Furriel
Do RAL2 a Santa Margarida,
Mas aquilo não era vida,
Não era aquilo que ele queria
Só desejava a casa regressar
Para ver a Celeste Maria
E poder passar o dia
Com ela a namorar!
Mas no meio do azar
Teve muita sorte com certeza
Por um ano que não foi parar
À Índia que era ainda portuguesa!
Celeste Maria anda triste
Uma tristeza que não merece
O seu amor não lhe assiste
Mas ela não o esquece!
E antes de ele regressar
Da imposta vida militar
Mata-se então a estudar.
E como se fosse seu calvário
Sem nenhuma reprovação
Completa com distinção
O curso do Magistério Primário.
Fernando, acabado o serviço militar
Regressa então a casa mas já não vai estudar,
Desiste da boa vida e decide ir trabalhar.


Mas ele anda muito calado
Nunca ninguém o viu tão acabrunhado
Não presta atenção a nada
Só pensa na sua amada.
Corria o ano de 1961
E no dia 19 de Março
Pensou: Já sei o que faço!
Decide que será nesse dia
Que irá pedir a mão de Celeste Maria.
Para ficar com um ar mais elegante
Veste o seu traje de estudante
E assim vestido à maneira
Segue para a casa do Sr. Ferreira.
É o próprio que lhe abre a porta
Ficando a olhar para aquele janota.
Fernando, diante de tão imponente figura
Diz com voz segura:
Venho pedir a mão de sua filha!
Sr. Ferreira naquele momento
Nem acreditava no descaramento
Do rapaz que à sua frente
Lhe pedia a filha como nubente.
Mas com a educação que o caracterizava
Diz-lhe: Eu já desconfiava,
Para vires assim pimpão
E todo vestido à maneira
Não queres que te dê só a mão,
Tu queres é a filha inteira!
Realmente Sr. Ferreira
Logo vi que já sabia
Mas levar a filha inteira
Era mesmo o que eu queria.
Decidir sozinho Sr. Ferreira não quer.
Por isso resolve chamar a mulher:
Ó Rosa, anda cá se faz favor
Está aqui o rapaz do tambor
Que me diz com muita firmeza
Querer levar a nossa princesa.



D. Rosa, que tinha chegado da novena
Ouviu tudo com calma serena.
E com toda a sabedoria do mundo
Resolve o problema de fundo:
Ó homem, se disso não podemos fugir
É melhor que seja ela a decidir.
Celeste Maria, anda cá
Tu gostas deste estudante?
Gosto sim, meu pai,
Um amor flamejante!
Então que hei-de eu fazer
Eu vos dou a minha bênção,
Sigam o vosso caminho
Trata-a com muito carinho
Com amor e muitos afectos
E não esqueceis que um dia
Eu quero ter a alegria
De ver os primeiros netos.
O Senhor pode ficar descansado
Eu amo-a tanto como por ela sou amado!

Celeste é em Cantanhede colocada
Aí, os meninos ela irá ensinar.
Fernando segue-lhe a peugada
E no ano seguinte decidem casar.
Dos pais já tinham a bênção
Mas ainda não podiam casar
Sem a devida autorização
Do Dr. Oliveira Salazar!
Após autorização concedida
De solteiros fazem a despedida
E sem mais nada para impedir
Ao altar vão subir!
Um casamento abençoado
Numa festa sem igual
Devidamente celebrado
Pelo famoso Padre Aníbal.


Traçam juntos os seus destinos
Em Coimbra ninguém os vê.
Celeste a ensinar os meninos
Fernando empregado nos CTT…

Ele agora anda calminho
E pede a Celeste Maria
Para lhe ensinar com carinho
Como aperfeiçoar a caligrafia!
Ela, agora com o curso do Magistério,
Sente-se preparada, sem segredos nem mistério!
E lá iam de vez em quando
Sempre com grande paixão
Com a caneta ensaiando
Umas vezes no tinteiro
Outras vezes na mão!...

Fernando já se sente preparado,
Melhor do que ninguém,
Por vezes fica muito admirado
Como é que já escreve tão bem!...
Então, na sua melhor escrita
E com uma letra bem bonita
Juntamente com a Celeste
Escreve duas cartas de mestre.
Foi uma cegonha que ali passou
Que pegou nas cartas e as levou!
Levou, mas regressou
E como resultado dessa escrita
De forma bem natural
Ficam com a família mais bonita
Adicionando um bonito casal.

Considerando as devidas ressalvas
A tudo se entrega com muito amor.
Do famoso Clube Os Marialvas
É convidado e aceita ser Director



Mas as saudades de Coimbra
Começam também a pesar.
E ao fim de 20 anos
Resolvem então regressar.
Mantêm as profissões
Embora noutro lugar!
Fernando por mérito e seus próprios meios
Fica Chefe numa Estação dos Correios.
Em Coimbra a trabalhar
Fernando vai arranjar
Uma outra grande paixão
Que lhe dá muita satisfação:
Sempre pronto para passeios
Entra num Grupo dos Correios
Para cantar, dançar e representar!
E é tal a sua paixão
E tamanha a sua lata
Que quando o filho lhe disse:
Meu pai, eu vou casar!
Nem penses, muda a data
Que nesse dia eu tenho que actuar!

Mas o homem não pára
Precisava de um sedativo
Ele é hiperactivo.
E durante 6 anos sucessivos
Com os cantares em acumulação
No CNM faz parte da direcção. 
Com rasgo de imaginação
Para os dançarinos amantes
Organiza matinés dançantes
Que são a delícia de velhadas
E a oportunidade para as encalhadas.

Aproveitando as férias e a cantoria
Agarra na Celeste Maria
Resolve conhecer o mundo:
Coimbra, Ceira
Açores e Madeira.
Para longe também investe:
Chipre, França e Bucareste.
Nos países nórdicos também anda
Vai da Noruega à Irlanda.
Com animação sempre em alta
Também foi a Gozo e à Ilha de Malta.
Mas não julguem que foi fácil
Viajar daquele jeito!
É que aquele homem de peito feito
Borra-se todo, é um cagão
Quando anda de avião!
Mas ainda não acabou
A história deste, agora, avô!
Não satisfeito com estas coisas todas
Entra para a Tuna Meliches
Que esteve para se chamar Tuna me…
Mas o padre não deixou!...
Aquilo é malta fixe
Mas muito, muito brejeira
Levam tudo para a brincadeira
E ninguém lhes leva a mal
Mesmo quando dizem comer
As renas do Pai Natal…

Na Tuna, Fernando reaparece
Com a paixão que jamais esquece:
O seu querido e amado bombo
Que carrega sempre ao ombro.
As mulheres, dele não tiram os olhos
Não do Fernando, mas do bombo de Lavacolhos! 
Aquilo é que é um bombo
Feito de pele de carneiro e do lombo!...
Mas Fernando Rafael um dia,
Acabada a animação
No meio daquela alegria
Pousou o bombo no chão.
Distraiu-se por um momento
E sem nenhum consentimento
Aproveita-se logo um sabujo
Para lhe gamar o dito cujo!
Ficou triste, desesperado
Muitas lágrimas ele chorou!
Andou por todo o lado
Aos amigos perguntou
Se alguém o tinha encontrado
E se por acaso o guardou!
Para esquecer suas penas
A todos faz telefonemas
Muitos e-mails e cartas escreveu
Mas de nada lhe valeu,
O bombo nunca mais apareceu!
Finalmente acreditou
Que alguém com ele se alambazou!
De lágrimas nos olhos
E cansado de esperar
Acabou por ir comprar
Um outro a Lavacolhos!
Diz ele:
Este agora está bem guardado
A mim ninguém mo gama
Vai comigo para todo o lado
E até o levo p’rá a cama!

Os dias lá vão passando
Muito calmos para o gosto de Fernando
E para resolver esse mal
Tem uma ideia genial
Invade a sua terra natal
Tal como os nossos antepassados
Conquistaram o mundo de caravela
Fernando Rafael não manda recados
E toma de assalto o Castelo de Penela!
Ficou com o título merecido de Castelão
E Celeste, a Castelã, título que leva por tabela!



Dom Fernando de Oliveira Rafael
Um eterno sonhador, um marido fiel 
Um Homem de bem
Amigo do seu amigo
E com a certeza vos digo
Não odeia nem é odiado por ninguém.
Persistente, desistir jamais!
Luta sempre pelos seus ideais.
Se não o fizesse nunca seria ninguém.

Com muita força de vontade
E com a ajuda da sua cara-metade
Consegue sem quaisquer loas
Reunir em várias festas, mais de 300 pessoas.
A elas chamou: Grandes Encontros de Gerações
Onde há muita alegria e grandes emoções!
Sempre conciliador
Mesmo quando lhe roubam o tambor
Como homem de bem
Não culpa ninguém!



EPILOGO


É este o Homem generoso e honrado
Trabalhador, esforçado,
Honesto e brincalhão
Marido, pai, avô, de grande coração!
Ama Coimbra e nasceu em Penela
E esta minha homenagem singela,
Que leio para toda a gente
Escrita no melhor papel
É fruto da minha amizade recente
Com Fernando de Oliveira Rafael.

Estamos hoje aqui reunidos
Festejando o seu aniversário.
Já são 80 bem medidos
Pouco falta para o Centenário
E nessa altura aqui estaremos
Para mais uma festa de arrombo
E bem alto ouviremos
Dom Fernando com o seu bombo!

Mas hoje peço a todos vós
Que unamos a nossa voz
E nesta hora festiva
Que se dê um forte viva
A este nosso amigo fiel
Dom Fernando de Oliveira Rafael.




Com um cordial abraço do Casal Amigo,
Alfredo e Daisy


Era uma terra pacata

De gente boa e gente sensata.

O seu Castelo altaneiro

Fazia inveja ao mundo inteiro.

As mulheres tratavam da casa

As crianças na rua a brincar

E os pais ocupados a trabalhar.

As meninas vinham à janela

Ver os rapazes passar!

A Vila, de seu nome Penela

Tinha pouco para contar.

Mas tudo vai ser diferente!...

Numa casa de bom ambiente

Um nascimento acontecia,

Iria dar muito que falar.

E é a partir desse dia

A história que vou contar!









I Acto – O NASCIMENTO E A INFÂNCIA




            

Paulo, vai a correr chamar a vizinha!

Vai, não perguntes nada!

Diz para vir preparada

Que o nascimento já se adivinha.

Agora não posso, estou a jogar ao pião!

Vai depressa meu malandro,

É o nascimento do teu irmão!

Paulo nem queria acreditar!

Já tinha duas irmãs,

Mas com elas não queria brincar.

Queria que fosse um irmão

Para com ele jogar

Ao berlinde e ao pião!

Iria tratá-lo com muito amor.

Até já pensava oferecer-lhe um tambor…

Paulo correu, correu pelas ruas de Penela.

Chamou toda a gente que estava à janela.

Chamou o padeiro

Chamou o leiteiro

O sapateiro e o merceeiro.

Chamou o Hilário

Chamou a florista

O boticário e o exorcista.

Chamou a parteira e o irmão

Também o padre e o sacristão!

E por fim, estava lá em casa a vila inteira.

Alguns vestidos à maneira.

Todos preparados para a festa

Para ver se o puto nascia desta.

E no ano de 1936,

Precisamente no dia 26

Dum bonito mês de Maio

Finalmente nasceu o catraio!

O irmão cumpre a promessa:

Parte o mealheiro com todo o vigor

E foi comprar a toda a pressa

Um grande e bonito tambor.

Toda a vila estava em festa!

Um arraial com gente rica e gente modesta.

E ao som daquele tambor

O povo dançou até o sol se pôr.

E no meio daquela alegria

Ninguém se lembrou nesse dia

Que o tinham de registar

E também um nome lhe dar!

Alguém alvitrou sem gozo

Que por nascer na Primavera

E de tão belo que ele era

Chamar-lhe Fernando como o Formoso.

E só dois dias depois

Lá foram todos ao Registo

Testemunhar que tinham visto

Na Freguesia de São Miguel

O nascimento nesse dia

Do menino Fernando Rafael.

Assim, a 28 foi registado

E por todos testemunhado

E a verdade ficou oculta

Para que o pai não pagasse a multa.

Os anos vão passando

E depressa o menino Fernando

Começa a andar

E deixa de mamar.

Só pensava no seu bombo, só queria era bombar!

Por vezes também brincava com as irmãs e o irmão.

Jogava à bola, ao berlinde, às casinhas e ao pião.

Mas a cabeça dele não estava ali não senhor

A cabeça dele estava sempre no tambor!


 



                                   

Fernando! Dizia-lhe sua mãe:

Já fizeste os deveres da escola?

Ele respondia sem abrir a sacola:

Eu já sei tudo minha mãe,

Eu sei mais do que ninguém!...

Ele lá saber, sabia…

Mas o pior era a caligrafia!

Na escrita era um horror,

Pegava na caneta como se fosse o tambor!

Como naquele tempo só passava quem sabia

E assim não havia quem o passasse

Para aperfeiçoar a caligrafia…

Fernando repete a 4ª classe.


Era franzininho, um lingrinhas

Mas pior que um pilha galinhas!

Todo o mal que na vila acontecia

Era ele que o fazia.

Não! Não era ele! Ele jura.

Mas a verdade é que tudo tinha a sua assinatura!

Quando o pai o castigava

Ele não chorava, cantava!...

A Guarda Republicana

É que dele não teve dó

E quando apanhou o sacana

Espetou com ele no xilindró.

A mãe não gostou, desatou a chorar

E antes do pai chegar

Lá teve que o ir buscar!

Mas nem ele se arrependia

Nem a prisão de emenda lhe servia!

A mãe dizia à vizinha:

Ó Dona Mariazinha,

Não sei o que fazer ao rapaz!...

É uma coisa muito estranha

Quanto mais açoites apanha,

Pior ele faz!...



E agora a irmã mais pequena

Parece dele não ter pena

Ainda mal sabe falar

Mas quando o pai regressar

Vai logo a correr para o acusar!...

Deixe lá isso, vizinha!

Ela é pequena e inocente

A Senhora não tem culpa

Um dia, arrependida e já velhinha

À frente de toda a gente

Ao irmão irá pedir desculpa…


Os dias passam iguais

E achando que havia vinho a mais

Na pipa do seu avô,

Fernando sem hesitar

Abriu a torneira do pipo

E deixou o vinho pelas ruas a jorrar!

Muitos açoites apanhou naquele rabo!...

Mas aquilo não era gente, era o diabo

O próprio diabo em pessoa

Nascido de gente boa.

Os pais não o conseguem acalmar

E pedem a Deus para o ajudar

E como Deus escreve direito por linhas tortas

Oferece-lhe uma nefrite

Que o acalma até ao limite.

Como em Penela não há cura para a maleita

Ruma então para Coimbra de mala feita.

Lá iria ser bem tratado

Do mal que Deus lhe deu,

Entraria para o Liceu

E seria orientado

Nos estudos e na educação

Pelos tios, Deolinda e Abegão.




Como no liceu só havia matulões

Que lhe batessem e lhe dessem empurrões,

E disso os tios tinham medo,

Resolveram então mandá-lo

Estudar no Colégio São Pedro!

Mais calminho, lá ia estudando

E os conselhos dos tios escutando.

A caligrafia continuava um horror

Mas cada vez tocava melhor no seu tambor.


Termina aqui a infância em toda a plenitude

De Fernando de Oliveira Rafael.

Irá gastar muita tinta e papel

Os anos seguintes da sua juventude.

Para trás ficou muito amor e alguma dor

Mas seguirá sempre pela vida fora

Carregando desde o romper da aurora

O seu querido e inseparável tambor.








II Acto – A JUVENTUDE E O RESTO



                         

Depois de tantas tropelias

Fernando vê sua infância passada.

Algumas tristezas muitas alegrias

É o fim da vida airada!

Há muito tempo deixou a escola

Era agora um rapazola

Com sua voz já mudada!

O diabo ainda o chamou…

Mas ele dizia: Não! Por aí não vou,

Essa vida não leva a nada!

Bom!... Dizia mas não fazia!

E como tem um coração mole

Perde-se agora de amores

Pelos jogos de futebol.

Um vício, um ai Jesus!

E resolve trocar o liceu

Pelo campo de Santa Cruz.

Para jogar tinha pouco jeito

Chutava torto, pouco a direito!

À baliza nem pensar,

Nunca defenderia uma bola que viesse pelo ar!...

Mas finalmente descobre o seu grande valor,

Na bancada, como espectador!...

E é tão grande o seu amor

Que quase esquece o tambor.

Os estudos iam ficando para trás.

E naturalmente como rapaz

Já começa então a olhar

Para as garotas que via passar!

Cada nome era adicionado

A uma já extensa lista

Mas seu coração estava guardado

Para um amor à primeira vista!

Vai mirando esta e aquela

A umas pisca o olho, a outras ele dá trela

Mas namoros não aceita.

Ele sabia que nenhuma era aquela

A tal, a que seria a eleita!

Foi então que Fernando viu

E uma dor no peito sentiu

Uma miúda bem giraça.

Tinha que saber a sua graça!

É uma beleza nunca vista

Vai logo para o topo da lista!

E com sabedoria régia

Arranja logo a estratégia:

Para engatar a pequena

Irá aproveitar a verbena

Que iria acontecer

Para a juventude se entreter.

E lá lhe arrastaria a asa

No baile, bem perto de casa

Onde é hoje o Centro Norton Matos.

Fernando calça os seus melhores sapatos

Vê-se ao espelho, não estava nada mal

E dirige-se então ao local.

Arranja a gravata

E com grande lata

Pergunta à miúda se quer dançar.

Ela depois de o mirar,

Aceita!

Ele, lá se ajeita

E no fim de cada tema

Ele adopta como lema

A mão dela não largar!

Assim, ele terá a certeza

Que toda aquela beleza

Dele não vai escapar!

Mas a noite já vai alta

E da música nem sentem falta.

E dançam, dançam sem reparar

Que está um lindo luar.

   



Ainda não são namorados

Mas mantêm-se agarrados.

Então, Fernando Rafael

Com toda a coragem do mundo

E sem perder um segundo

Sem pensar no que dizia

Pede-lhe namoro naquele dia.

E não é que a pequena

Até o foi aceitar?!...

Ele nem queria acreditar!

Só lhe apetecia cantar

Pelas ruas da cidade.

E tamanha era a vaidade

E grande a sua alegria

De tão contente que estava,

Que pelos caminhos por onde passava

A toda a gente dizia

Que finalmente namorava

A formosa Celeste Maria


Ó pá! Dizia o amigo

Como é que namora contigo?

Tu não és gajo para ela!

Sou, tenho a certeza!

E toda aquela beleza

Gosta tanto de mim, como eu gosto dela!

E ele não se enganava

Pois ela também dele gostava!


Celeste Maria estudava

E além disso ainda ajudava

Seu pai, com arte e sabedoria

No laboratório de fotografia.

E quando começa a namorar

Fernando também quer ajudar!




Ele, o futebol não esquecia!

E por vezes o que fazia

Era ir ao campo durante o dia!

À noite chegada a altura

Ia namorar na câmara escura!...

Mas quando o pai de Celeste aparecia

A luz da câmara acendia

Eles não estavam a fazer nada…

Mas a fotografia ficava velada!


Entretanto, Celeste Maria

Começa a reparar

Que Fernando não se vai safar

No que respeita a caligrafia.

A caneta era a preceito

Mas ele pegava-lhe sem jeito!

Ela, resolve pegar na caneta

E explica-lhe como se faz.

Ele faz uma careta

E diz que não é capaz!

Era malandro o rapaz

Isso está bom de ver

Dizia não ser capaz

Para ser ela a escrever! …


E nos intervalos da escrita

Lá iam esmaltando

Recortando

Carimbando

E embalando

Tudo o que a Celeste Maria

Lhe ensinou de fotografia!

Era uma vida regalada

Todo o dia com a namorada.

Às 9 horas, quando a porta da loja abria

Já Celeste Maria sabia

Que Fernando à sua espera lá estaria!




Com o namoro de Celeste e Fernando, 

Assim os dias vão passando!

Mas o pior estava para vir

Coisa a que ele não podia fugir.

É chamado para a tropa.

Andou a saltar de quartel em quartel

De Cabo Miliciano a Furriel

Do RAL2 a Santa Margarida,

Mas aquilo não era vida,

Não era aquilo que ele queria

Só desejava a casa regressar

Para ver a Celeste Maria

E poder passar o dia

Com ela a namorar!

Mas no meio do azar

Teve muita sorte com certeza

Por um ano que não foi parar

À Índia que era ainda portuguesa!

Celeste Maria anda triste

Uma tristeza que não merece

O seu amor não lhe assiste

Mas ela não o esquece!

E antes de ele regressar

Da imposta vida militar

Mata-se então a estudar.

E como se fosse seu calvário

Sem nenhuma reprovação

Completa com distinção

O curso do Magistério Primário.

Fernando, acabado o serviço militar

Regressa então a casa mas já não vai estudar,

Desiste da boa vida e decide ir trabalhar.



Mas ele anda muito calado

Nunca ninguém o viu tão acabrunhado

Não presta atenção a nada

Só pensa na sua amada.

Corria o ano de 1961

E no dia 19 de Março

Pensou: Já sei o que faço!

Decide que será nesse dia

Que irá pedir a mão de Celeste Maria.

Para ficar com um ar mais elegante

Veste o seu traje de estudante

E assim vestido à maneira

Segue para a casa do Sr. Ferreira.

É o próprio que lhe abre a porta

Ficando a olhar para aquele janota.

Fernando, diante de tão imponente figura

Diz com voz segura:

Venho pedir a mão de sua filha!

Sr. Ferreira naquele momento

Nem acreditava no descaramento

Do rapaz que à sua frente

Lhe pedia a filha como nubente.

Mas com a educação que o caracterizava

Diz-lhe: Eu já desconfiava,

Para vires assim pimpão

E todo vestido à maneira

Não queres que te dê só a mão,

Tu queres é a filha inteira!

Realmente Sr. Ferreira

Logo vi que já sabia

Mas levar a filha inteira

Era mesmo o que eu queria.

Decidir sozinho Sr. Ferreira não quer.

Por isso resolve chamar a mulher:

Ó Rosa, anda cá se faz favor

Está aqui o rapaz do tambor

Que me diz com muita firmeza

Querer levar a nossa princesa.




D. Rosa, que tinha chegado da novena

Ouviu tudo com calma serena.

E com toda a sabedoria do mundo

Resolve o problema de fundo:

Ó homem, se disso não podemos fugir

É melhor que seja ela a decidir.

Celeste Maria, anda cá

Tu gostas deste estudante?

Gosto sim, meu pai,

Um amor flamejante!

Então que hei-de eu fazer

Eu vos dou a minha bênção,

Sigam o vosso caminho

Trata-a com muito carinho

Com amor e muitos afectos

E não esqueceis que um dia

Eu quero ter a alegria

De ver os primeiros netos.

O Senhor pode ficar descansado

Eu amo-a tanto como por ela sou amado!


Celeste é em Cantanhede colocada

Aí, os meninos ela irá ensinar.

Fernando segue-lhe a peugada

E no ano seguinte decidem casar.

Dos pais já tinham a bênção

Mas ainda não podiam casar

Sem a devida autorização

Do Dr. Oliveira Salazar!

Após autorização concedida

De solteiros fazem a despedida

E sem mais nada para impedir

Ao altar vão subir!

Um casamento abençoado

Numa festa sem igual

Devidamente celebrado

Pelo famoso Padre Aníbal.



Traçam juntos os seus destinos

Em Coimbra ninguém os vê.

Celeste a ensinar os meninos

Fernando empregado nos CTT…


Ele agora anda calminho

E pede a Celeste Maria

Para lhe ensinar com carinho

Como aperfeiçoar a caligrafia!

Ela, agora com o curso do Magistério,

Sente-se preparada, sem segredos nem mistério!

E lá iam de vez em quando

Sempre com grande paixão

Com a caneta ensaiando

Umas vezes no tinteiro

Outras vezes na mão!...


Fernando já se sente preparado,

Melhor do que ninguém,

Por vezes fica muito admirado

Como é que já escreve tão bem!...

Então, na sua melhor escrita

E com uma letra bem bonita

Juntamente com a Celeste

Escreve duas cartas de mestre.

Foi uma cegonha que ali passou

Que pegou nas cartas e as levou!

Levou, mas regressou

E como resultado dessa escrita

De forma bem natural

Ficam com a família mais bonita

Adicionando um bonito casal.


Considerando as devidas ressalvas

A tudo se entrega com muito amor.

Do famoso Clube Os Marialvas

É convidado e aceita ser Director




Mas as saudades de Coimbra

Começam também a pesar.

E ao fim de 20 anos

Resolvem então regressar.

Mantêm as profissões

Embora noutro lugar!

Fernando por mérito e seus próprios meios

Fica Chefe numa Estação dos Correios.

Em Coimbra a trabalhar

Fernando vai arranjar

Uma outra grande paixão

Que lhe dá muita satisfação:

Sempre pronto para passeios

Entra num Grupo dos Correios

Para cantar, dançar e representar!

E é tal a sua paixão

E tamanha a sua lata

Que quando o filho lhe disse:

Meu pai, eu vou casar!

Nem penses, muda a data

Que nesse dia eu tenho que actuar!


Mas o homem não pára

Precisava de um sedativo

Ele é hiperactivo.

E durante 6 anos sucessivos

Com os cantares em acumulação

No CNM faz parte da direcção. 

Com rasgo de imaginação

Para os dançarinos amantes

Organiza matinés dançantes

Que são a delícia de velhadas

E a oportunidade para as encalhadas.


Aproveitando as férias e a cantoria

Agarra na Celeste Maria

Resolve conhecer o mundo:

Coimbra, Ceira

Açores e Madeira.

Para longe também investe:

Chipre, França e Bucareste.

Nos países nórdicos também anda

Vai da Noruega à Irlanda.

Com animação sempre em alta

Também foi a Gozo e à Ilha de Malta.

Mas não julguem que foi fácil

Viajar daquele jeito!

É que aquele homem de peito feito

Borra-se todo, é um cagão

Quando anda de avião!

Mas ainda não acabou

A história deste, agora, avô!

Não satisfeito com estas coisas todas

Entra para a Tuna Meliches

Que esteve para se chamar Tuna me…

Mas o padre não deixou!...

Aquilo é malta fixe

Mas muito, muito brejeira

Levam tudo para a brincadeira

E ninguém lhes leva a mal

Mesmo quando dizem comer

As renas do Pai Natal…


Na Tuna, Fernando reaparece

Com a paixão que jamais esquece:

O seu querido e amado bombo

Que carrega sempre ao ombro.

As mulheres, dele não tiram os olhos

Não do Fernando, mas do bombo de Lavacolhos! 

Aquilo é que é um bombo

Feito de pele de carneiro e do lombo!...

Mas Fernando Rafael um dia,

Acabada a animação

No meio daquela alegria

Pousou o bombo no chão.

Distraiu-se por um momento

E sem nenhum consentimento

Aproveita-se logo um sabujo

Para lhe gamar o dito cujo!

Ficou triste, desesperado

Muitas lágrimas ele chorou!

Andou por todo o lado

Aos amigos perguntou

Se alguém o tinha encontrado

E se por acaso o guardou!

Para esquecer suas penas

A todos faz telefonemas

Muitos e-mails e cartas escreveu

Mas de nada lhe valeu,

O bombo nunca mais apareceu!

Finalmente acreditou

Que alguém com ele se alambazou!

De lágrimas nos olhos

E cansado de esperar

Acabou por ir comprar

Um outro a Lavacolhos!

Diz ele:

Este agora está bem guardado

A mim ninguém mo gama

Vai comigo para todo o lado

E até o levo p’rá a cama!


Os dias lá vão passando

Muito calmos para o gosto de Fernando

E para resolver esse mal

Tem uma ideia genial

Invade a sua terra natal

Tal como os nossos antepassados

Conquistaram o mundo de caravela

Fernando Rafael não manda recados

E toma de assalto o Castelo de Penela!

Ficou com o título merecido de Castelão

E Celeste, a Castelã, título que leva por tabela!




Dom Fernando de Oliveira Rafael

Um eterno sonhador, um marido fiel 

Um Homem de bem

Amigo do seu amigo

E com a certeza vos digo

Não odeia nem é odiado por ninguém.

Persistente, desistir jamais!

Luta sempre pelos seus ideais.

Se não o fizesse nunca seria ninguém.


Com muita força de vontade

E com a ajuda da sua cara-metade

Consegue sem quaisquer loas

Reunir em várias festas, mais de 300 pessoas.

A elas chamou: Grandes Encontros de Gerações

Onde há muita alegria e grandes emoções!

Sempre conciliador

Mesmo quando lhe roubam o tambor

Como homem de bem

Não culpa ninguém!




EPILOGO



É este o Homem generoso e honrado

Trabalhador, esforçado,

Honesto e brincalhão

Marido, pai, avô, de grande coração!

Ama Coimbra e nasceu em Penela

E esta minha homenagem singela,

Que leio para toda a gente

Escrita no melhor papel

É fruto da minha amizade recente

Com Fernando de Oliveira Rafael.


Estamos hoje aqui reunidos

Festejando o seu aniversário.

Já são 80 bem medidos

Pouco falta para o Centenário

E nessa altura aqui estaremos

Para mais uma festa de arrombo

E bem alto ouviremos

Dom Fernando com o seu bombo!


Mas hoje peço a todos vós

Que unamos a nossa voz

E nesta hora festiva

Que se dê um forte viva

A este nosso amigo fiel

Dom Fernando de Oliveira Rafael.





Com um cordial abraço do Casal Amigo,

Alfredo e Daisy



Publicada por DOM RAFAEL O CASTELÃO à(s) 5/26/2016 06:30:00 da tarde 1 comentários   

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Etiquetas: Alfredo Moreirinhas

segunda-feira, 23 de maio de 2016

A TERNURA DOS OITENTA...desde o seu nascimento...de Fernando Rafael

II Acto - A Juventude e o restao


II Acto – A JUVENTUDE E O RESTO



                         

Depois de tantas tropelias

Fernando vê sua infância passada.

Algumas tristezas muitas alegrias

É o fim da vida airada!

Há muito tempo deixou a escola

Era agora um rapazola

Com sua voz já mudada!

O diabo ainda o chamou…

Mas ele dizia: Não! Por aí não vou,

Essa vida não leva a nada!

Bom!... Dizia mas não fazia!

E como tem um coração mole

Perde-se agora de amores

Pelos jogos de futebol.

Um vício, um ai Jesus!

E resolve trocar o liceu

Pelo campo de Santa Cruz.

Para jogar tinha pouco jeito

Chutava torto, pouco a direito!

À baliza nem pensar,

Nunca defenderia uma bola que viesse pelo ar!...

Mas finalmente descobre o seu grande valor,

Na bancada, como espectador!...

E é tão grande o seu amor

Que quase esquece o tambor.

Os estudos iam ficando para trás.

E naturalmente como rapaz

Já começa então a olhar

Para as garotas que via passar!

Cada nome era adicionado

A uma já extensa lista

Mas seu coração estava guardado

Para um amor à primeira vista!

Vai mirando esta e aquela

A umas pisca o olho, a outras ele dá trela

Mas namoros não aceita.

Ele sabia que nenhuma era aquela

A tal, a que seria a eleita!

Foi então que Fernando viu

E uma dor no peito sentiu

Uma miúda bem giraça.

Tinha que saber a sua graça!

É uma beleza nunca vista

Vai logo para o topo da lista!

E com sabedoria régia

Arranja logo a estratégia:

Para engatar a pequena

Irá aproveitar a verbena

Que iria acontecer

Para a juventude se entreter.

E lá lhe arrastaria a asa

No baile, bem perto de casa

Onde é hoje o Centro Norton Matos.

Fernando calça os seus melhores sapatos

Vê-se ao espelho, não estava nada mal

E dirige-se então ao local.

Arranja a gravata

E com grande lata

Pergunta à miúda se quer dançar.

Ela depois de o mirar,

Aceita!

Ele, lá se ajeita

E no fim de cada tema

Ele adopta como lema

A mão dela não largar!

Assim, ele terá a certeza

Que toda aquela beleza

Dele não vai escapar!

Mas a noite já vai alta

E da música nem sentem falta.

E dançam, dançam sem reparar

Que está um lindo luar.

   



Ainda não são namorados

Mas mantêm-se agarrados.

Então, Fernando Rafael

Com toda a coragem do mundo

E sem perder um segundo

Sem pensar no que dizia

Pede-lhe namoro naquele dia.

E não é que a pequena

Até o foi aceitar?!...

Ele nem queria acreditar!

Só lhe apetecia cantar

Pelas ruas da cidade.

E tamanha era a vaidade

E grande a sua alegria

De tão contente que estava,

Que pelos caminhos por onde passava

A toda a gente dizia

Que finalmente namorava

A formosa Celeste Maria


Ó pá! Dizia o amigo

Como é que namora contigo?

Tu não és gajo para ela!

Sou, tenho a certeza!

E toda aquela beleza

Gosta tanto de mim, como eu gosto dela!

E ele não se enganava

Pois ela também dele gostava!


Celeste Maria estudava

E além disso ainda ajudava

Seu pai, com arte e sabedoria

No laboratório de fotografia.

E quando começa a namorar

Fernando também quer ajudar!




Ele, o futebol não esquecia!

E por vezes o que fazia

Era ir ao campo durante o dia!

À noite chegada a altura

Ia namorar na câmara escura!...

Mas quando o pai de Celeste aparecia

A luz da câmara acendia

Eles não estavam a fazer nada…

Mas a fotografia ficava velada!


Entretanto, Celeste Maria

Começa a reparar

Que Fernando não se vai safar

No que respeita a caligrafia.

A caneta era a preceito

Mas ele pegava-lhe sem jeito!

Ela, resolve pegar na caneta

E explica-lhe como se faz.

Ele faz uma careta

E diz que não é capaz!

Era malandro o rapaz

Isso está bom de ver

Dizia não ser capaz

Para ser ela a escrever! …


E nos intervalos da escrita

Lá iam esmaltando

Recortando

Carimbando

E embalando

Tudo o que a Celeste Maria

Lhe ensinou de fotografia!

Era uma vida regalada

Todo o dia com a namorada.

Às 9 horas, quando a porta da loja abria

Já Celeste Maria sabia

Que Fernando à sua espera lá estaria!




Com o namoro de Celeste e Fernando, 

Assim os dias vão passando!

Mas o pior estava para vir

Coisa a que ele não podia fugir.

É chamado para a tropa.

Andou a saltar de quartel em quartel

De Cabo Miliciano a Furriel

Do RAL2 a Santa Margarida,

Mas aquilo não era vida,

Não era aquilo que ele queria

Só desejava a casa regressar

Para ver a Celeste Maria

E poder passar o dia

Com ela a namorar!

Mas no meio do azar

Teve muita sorte com certeza

Por um ano que não foi parar

À Índia que era ainda portuguesa!

Celeste Maria anda triste

Uma tristeza que não merece

O seu amor não lhe assiste

Mas ela não o esquece!

E antes de ele regressar

Da imposta vida militar

Mata-se então a estudar.

E como se fosse seu calvário

Sem nenhuma reprovação

Completa com distinção

O curso do Magistério Primário.

Fernando, acabado o serviço militar

Regressa então a casa mas já não vai estudar,

Desiste da boa vida e decide ir trabalhar.



Mas ele anda muito calado

Nunca ninguém o viu tão acabrunhado

Não presta atenção a nada

Só pensa na sua amada.

Corria o ano de 1961

E no dia 19 de Março

Pensou: Já sei o que faço!

Decide que será nesse dia

Que irá pedir a mão de Celeste Maria.

Para ficar com um ar mais elegante

Veste o seu traje de estudante

E assim vestido à maneira

Segue para a casa do Sr. Ferreira.

É o próprio que lhe abre a porta

Ficando a olhar para aquele janota.

Fernando, diante de tão imponente figura

Diz com voz segura:

Venho pedir a mão de sua filha!

Sr. Ferreira naquele momento

Nem acreditava no descaramento

Do rapaz que à sua frente

Lhe pedia a filha como nubente.

Mas com a educação que o caracterizava

Diz-lhe: Eu já desconfiava,

Para vires assim pimpão

E todo vestido à maneira

Não queres que te dê só a mão,

Tu queres é a filha inteira!

Realmente Sr. Ferreira

Logo vi que já sabia

Mas levar a filha inteira

Era mesmo o que eu queria.

Decidir sozinho Sr. Ferreira não quer.

Por isso resolve chamar a mulher:

Ó Rosa, anda cá se faz favor

Está aqui o rapaz do tambor

Que me diz com muita firmeza

Querer levar a nossa princesa.




D. Rosa, que tinha chegado da novena

Ouviu tudo com calma serena.

E com toda a sabedoria do mundo

Resolve o problema de fundo:

Ó homem, se disso não podemos fugir

É melhor que seja ela a decidir.

Celeste Maria, anda cá

Tu gostas deste estudante?

Gosto sim, meu pai,

Um amor flamejante!

Então que hei-de eu fazer

Eu vos dou a minha bênção,

Sigam o vosso caminho

Trata-a com muito carinho

Com amor e muitos afectos

E não esqueceis que um dia

Eu quero ter a alegria

De ver os primeiros netos.

O Senhor pode ficar descansado

Eu amo-a tanto como por ela sou amado!


Celeste é em Cantanhede colocada

Aí, os meninos ela irá ensinar.

Fernando segue-lhe a peugada

E no ano seguinte decidem casar.

Dos pais já tinham a bênção

Mas ainda não podiam casar

Sem a devida autorização

Do Dr. Oliveira Salazar!

Após autorização concedida

De solteiros fazem a despedida

E sem mais nada para impedir

Ao altar vão subir!

Um casamento abençoado

Numa festa sem igual

Devidamente celebrado

Pelo famoso Padre Aníbal.



Traçam juntos os seus destinos

Em Coimbra ninguém os vê.

Celeste a ensinar os meninos

Fernando empregado nos CTT…


Ele agora anda calminho

E pede a Celeste Maria

Para lhe ensinar com carinho

Como aperfeiçoar a caligrafia!

Ela, agora com o curso do Magistério,

Sente-se preparada, sem segredos nem mistério!

E lá iam de vez em quando

Sempre com grande paixão

Com a caneta ensaiando

Umas vezes no tinteiro

Outras vezes na mão!...


Fernando já se sente preparado,

Melhor do que ninguém,

Por vezes fica muito admirado

Como é que já escreve tão bem!...

Então, na sua melhor escrita

E com uma letra bem bonita

Juntamente com a Celeste

Escreve duas cartas de mestre.

Foi uma cegonha que ali passou

Que pegou nas cartas e as levou!

Levou, mas regressou

E como resultado dessa escrita

De forma bem natural

Ficam com a família mais bonita

Adicionando um bonito casal.


Considerando as devidas ressalvas

A tudo se entrega com muito amor.

Do famoso Clube Os Marialvas

É convidado e aceita ser Director




Mas as saudades de Coimbra

Começam também a pesar.

E ao fim de 20 anos

Resolvem então regressar.

Mantêm as profissões

Embora noutro lugar!

Fernando por mérito e seus próprios meios

Fica Chefe numa Estação dos Correios.

Em Coimbra a trabalhar

Fernando vai arranjar

Uma outra grande paixão

Que lhe dá muita satisfação:

Sempre pronto para passeios

Entra num Grupo dos Correios

Para cantar, dançar e representar!

E é tal a sua paixão

E tamanha a sua lata

Que quando o filho lhe disse:

Meu pai, eu vou casar!

Nem penses, muda a data

Que nesse dia eu tenho que actuar!


Mas o homem não pára

Precisava de um sedativo

Ele é hiperactivo.

E durante 6 anos sucessivos

Com os cantares em acumulação

No CNM faz parte da direcção. 

Com rasgo de imaginação

Para os dançarinos amantes

Organiza matinés dançantes

Que são a delícia de velhadas

E a oportunidade para as encalhadas.


Aproveitando as férias e a cantoria

Agarra na Celeste Maria

Resolve conhecer o mundo:

Coimbra, Ceira

Açores e Madeira.

Para longe também investe:

Chipre, França e Bucareste.

Nos países nórdicos também anda

Vai da Noruega à Irlanda.

Com animação sempre em alta

Também foi a Gozo e à Ilha de Malta.

Mas não julguem que foi fácil

Viajar daquele jeito!

É que aquele homem de peito feito

Borra-se todo, é um cagão

Quando anda de avião!

Mas ainda não acabou

A história deste, agora, avô!

Não satisfeito com estas coisas todas

Entra para a Tuna Meliches

Que esteve para se chamar Tuna me…

Mas o padre não deixou!...

Aquilo é malta fixe

Mas muito, muito brejeira

Levam tudo para a brincadeira

E ninguém lhes leva a mal

Mesmo quando dizem comer

As renas do Pai Natal…


Na Tuna, Fernando reaparece

Com a paixão que jamais esquece:

O seu querido e amado bombo

Que carrega sempre ao ombro.

As mulheres, dele não tiram os olhos

Não do Fernando, mas do bombo de Lavacolhos! 

Aquilo é que é um bombo

Feito de pele de carneiro e do lombo!...

Mas Fernando Rafael um dia,

Acabada a animação

No meio daquela alegria

Pousou o bombo no chão.

Distraiu-se por um momento

E sem nenhum consentimento

Aproveita-se logo um sabujo

Para lhe gamar o dito cujo!

Ficou triste, desesperado

Muitas lágrimas ele chorou!

Andou por todo o lado

Aos amigos perguntou

Se alguém o tinha encontrado

E se por acaso o guardou!

Para esquecer suas penas

A todos faz telefonemas

Muitos e-mails e cartas escreveu

Mas de nada lhe valeu,

O bombo nunca mais apareceu!

Finalmente acreditou

Que alguém com ele se alambazou!

De lágrimas nos olhos

E cansado de esperar

Acabou por ir comprar

Um outro a Lavacolhos!

Diz ele:

Este agora está bem guardado

A mim ninguém mo gama

Vai comigo para todo o lado

E até o levo p’rá a cama!


Os dias lá vão passando

Muito calmos para o gosto de Fernando

E para resolver esse mal

Tem uma ideia genial

Invade a sua terra natal

Tal como os nossos antepassados

Conquistaram o mundo de caravela

Fernando Rafael não manda recados

E toma de assalto o Castelo de Penela!

Ficou com o título merecido de Castelão

E Celeste, a Castelã, título que leva por tabela!




Dom Fernando de Oliveira Rafael

Um eterno sonhador, um marido fiel 

Um Homem de bem

Amigo do seu amigo

E com a certeza vos digo

Não odeia nem é odiado por ninguém.

Persistente, desistir jamais!

Luta sempre pelos seus ideais.

Se não o fizesse nunca seria ninguém.


Com muita força de vontade

E com a ajuda da sua cara-metade

Consegue sem quaisquer loas

Reunir em várias festas, mais de 300 pessoas.

A elas chamou: Grandes Encontros de Gerações

Onde há muita alegria e grandes emoções!

Sempre conciliador

Mesmo quando lhe roubam o tambor

Como homem de bem

Não culpa ninguém!




EPILOGO



É este o Homem generoso e honrado

Trabalhador, esforçado,

Honesto e brincalhão

Marido, pai, avô, de grande coração!

Ama Coimbra e nasceu em Penela

E esta minha homenagem singela,

Que leio para toda a gente

Escrita no melhor papel

É fruto da minha amizade recente

Com Fernando de Oliveira Rafael.


Estamos hoje aqui reunidos

Festejando o seu aniversário.

Já são 80 bem medidos

Pouco falta para o Centenário

E nessa altura aqui estaremos

Para mais uma festa de arrombo

E bem alto ouviremos

Dom Fernando com o seu bombo!


Mas hoje peço a todos vós

Que unamos a nossa voz

E nesta hora festiva

Que se dê um forte viva

A este nosso amigo fiel

Dom Fernando de Oliveira Rafael.





Com um cordial abraço do Casal Amigo,

Alfredo e Daisy