domingo, 29 de julho de 2007

184. ASSALTO AO BAÚ DAS RECORDAÇÕES...

A minha infância em Penela, tanto quanto me lembro, terá decorrido entre os sete e os treze anos de idade. Até aos sete, realmente pouco ou nada retenho na minha memória...Apenas uma excepção, que não sei bem porquê, terá sido essa imagem a única que ainda hoje me acompanha: atravessar a Praça da República, de mão dada com a minha irmã Adélia, muito aprautadinhos e eu muito orgulhoso de ela ter uns caracóis, muito bem arrumadinhos na cabecita! Alguém comentou, "que lindos que eles vão"!!
Bom, depois foi o entrar na 1ª classe da escola masculina, paredes meias com a feminina.
Já não me lembro se chorei, mas pelo que sei de mim, quase de certeza que não! Durante estes dois primeiros anos, o meu baú, nada me oferece, que seja digno de registo...
Quando mais espigadote, já na 3ª calsse, na casa dos dez anos, aí sim começaram a surgir episódios de que hoje me lembro e marcaram a minha infância em Penela!
Da escola própriamente, retenho as imagens da sala de aula, onde conviviam, e aprendiam as diversas matérias escolares, as quatro classes, com um único professor!
Neste período da escola, 3ª e 4ª classes, os professores foram respectivamente a D. Antónia e o professor Artur. Da D. Antónia, tenho boas recordações, que perduraram até muitos anos depois, quando ambos já viviamos em Coimbra.
Do professor Artur, nem por isso, pois era muito severo e as réguadas, com a "menina de cinco olhos", dadas com a mão esquerda (usava o relógio na mão direita, para não o estragar), eram muito dolorosas! Curioso era que este professor para além da" menina de cinco olhos", usava a régua normal, para casos menos graves!
Ir ao quadro preto na disciplina de "álgebra", era um verdadeiro suplício!!! Aqueles problemas das torneiras, que se lembravam de deitar água para um tanque, ou os combóios que partiam à mesma hora com velocidades diferentes... deixaram-me marcas profundas!
O que me valeu um pouco, para contornar a fúria réguista do professor, foi o me ter oferecido para lhe fazer o almoço, e quase sempre era à base de arroz....
Sim, porque nesses tempos as escolas, ainda hoje se pode constatar isso, tinham residências para os professores e o mestre Artur, solteirão, vivia nessa residência e só ia a Coimbra nos fins de semana.
E assim, à pála do arrozito do almoço, lá me ia livrando duns "cachaços", quando ia ao quadro!
Do que me lembro mais nestes dois anos pssados dentro da escola?
Talvez...
-recordo que todos os meses, juntamente com outro companheiro, íamos a casa das pessoas da vila, cobrar as quotas para a "caixa escolar".
-da lavagem uma vez por mês do chão da sala de aula.
-das brincadeiras do recreio, com jogos, nas respectivas épocas: " às nações" jogo da "barra", " dá-me lume", do "pião", do jogo do "botão", etc...
E lembro-me muito bem do dia em que os professores de ambas escolas faltaram de manhã, e nós rapazes e raparigas nos juntámos na escola masculina, sentando-nos nuns bancos corridos, alteradanente, um rapaz uma rapariga...quando inesperadante apareceu o professor Artur!
Foi o bom e o bonito!
As meninas foram devolvidas à respectiva escola e os rapazes...corridos com um ensaio de porrada!
-Nos finais de cada ano escolar e para depedida dos que acabavam a 4ª classe, com a assistência dos familiares, havia uma festa, em que se cantava e se representava uma pecinha de teatro (modéstia à parte eu era sempre o actor principal!)
E pronto, lá fiz a 4ªclasse, com fato e sapatos novos, e não muita sabedoria (á excepção do que era de "encornar") e claro com a anotação na pauta de "APROVADO", pois que a "DISTINÇÃO", como é evidente era fruta demasiado alta para lhe chegar!
De tal forma, assim era, que o normal nesse ano do exame da 4ª classe, quem queria continuar a estudar(muito poucos) ia fazer um exame de admissão ao Liceu.
Mas o professor Artur e o meu pai acordaram que seria melhor eu fazer mais um ano de preparação, para depois fazer tal exame de admissão ao Liceu...E foi o que aconreceu.
E no ano seguinte lá voltei para a escola, praticamente como "mulher a dias" do novo professor, um ex seminarista, a que chamavam de Regente Escolar.
Foi ele que me propôs ao tal exame de Admissão ao Liceu, houve pelo menos a oferta dum cabrito, mas como foi um ano mais tarde, não me aceitaram no Liceu D. João III, e por isso tive de ir, como menino rico que não era, para o Colégio de São Paulo, que ficava situado no Bairro Sousa Pinto e depois mais tarde para o Colégio de S. Pedro!
Ainda hoje estou para saber, como é que o meu pai conseguia pagar as propinas trimestrais, embora o alojamento e alimentação fossem em casa de sua irmã, tia Deolinda e do tio Abegão, e que para além do acordo que havia entre os irmãos (se é que havia algum acordo formal), também a eles devo as possibilidades que tive de triunfar na vida e se não fui mais longe só eu sou o responsável...
A minha vida escolar em Penela terminou por aqui, não a minha vida extra escolar...que tem outras "estórias"...

2 comentários:

Assalto ao castelo disse...

Obrigada por esta "estoria" com alguns pormenores que desconhecia e muitos sentimentos que conhecia ou pressentia.
Para mim foste tao longe quanto era necessario.
Obrigada,
Gelamaria

Anónimo disse...

Mano Rafaelito

E bem longe foste no teu percuso profissional.
Cá esperamos pelas outras "estórias"!

"Os manos muito aprautadinhos atravessaram a Praça"...Contava a nossa mãe que as pessoas de Penela costumavam dizer:"Dá gosto olhar para os filhos da Isaura, trá-los sempre tão "desenxovalhados"!

Olindita