PENELA NO ROTEIRO DE SALAZAR
Transcrição de uma carta escrita em “FALA O LEITOR ao Diário de Coimbra:
Senhor Director, Foi apresentado há pouco um filme televisivo sobre a vida ítima de Salazar, pondo em foco os seus afectos com certo mundo feminino. Trata-se de uma devassa, a exploração da memória de um homem que passou com virtudes e defeitos, de acção politica muito polémica, que a História julgará.
No tal filme há uma personagem que não é beliscada e que edifica pelo seu porte austero e digno: a senhora Maria, a governanta da casa do chefe de governo.
Ora a senhora MARIA - de seu nome Maria de Jesus Caetano - nasceu no concelho de PENELA, no lugar de FREIXIOSA, junto às Serradas, próximo da capelinha de S. Silvestre. Muito jovem saiu para Coimbra onde foi empregada do governante na residência o “PALÁCIO DOS GRILOS” dos então professores universitários Oliveira Salazar e Padre Manuel Gonçalves Cerejeira. É o que nos conta, com óptimas referências o que foi Presidente do Conselho que afirmou, em texto escrito em Setembro de 1951:
“MARIA era a governanta da casa onde vivi em Coimbra com o meu amigo Manuel Gonçalves Cerejeira, o actual Cardeal Patriarca. Viemos ambos para Lisboa mais ou menos ao mesmo tempo. Ela veio comigo e ainda cá está. Trata-me
da casa e da roupa. Não escolho as minhas gravatas nem os meus fatos: é ela quem se encarrega de tudo. Para além disso, filtra-me as visitas; assim protege-me. Traz-me também pequenas informações. É através dela que me chegam os boatos e até certas criticas. É de uma dedicação total. Penso que seria capaz de dar a vida por mim. Sabe também guardar os segredos” (No Diário de Salazar” de António Trabulo).
É interessante que, por motivo desta governanta, Salazar colocou um pouco PENELA no seu roteiro. De facto nas suas viagens de ida e volta de Santa Comba , passava pela terra natal da senhora Maria. O motorista parava então à beira da estrada da SERRADA e lá ia com a governanta à sua modesta casa da FREIXIOSA buscar o bom azeitinho mais as batatas e a hortaliça que transportavam para São Bento- produtos do campo preparados por um homem da sua confiança, o então sacristão da Igreja de Santa Eufémia de PENELA, Dinis Dias dos Reis.
Ao tempo, na década de sessenta, havia eu fundado em PENELA um jornal que levava ao perto e ao longe os ecos da terra com a necessária doutrinação cristã. O jornal não se metia na politica local mas não se coibia de lutar pelos valores e promoção social da comunidade. Neste sentido em certo número publicou um artigo com o título:”Quem olha pela pobre agricultura?”, um escrito um pouco mordente que originou um oficio intimidatório da Comissão de Censura com a ameaça da sua suspensão. Tudo. Porém, passou em nada!
O curioso é que a senhora Maria era assinante da “VOZ DE PENELA”, recebendo-o mensalmente com o endereço “D. MARIA DE JESUS CAETANO- Palácio de S. Bento - LISBOA” e imaginávamos que o jornal lá em casa circulasse ao alcance de Salazar. A verdade é que afinal, se bem o imaginávamos assim acontecia. Um dia o amigo ENGENHEIRO AUGUSTO CORREIA, dinâmico presidente da Câmara de PENELA, atira-me à queima roupa:
-Olhe que o senhor veja lá o que escreve na “VOZ DE PENELA”….saiba que o Salazar lê o seu jornal! Há dias o engenheiro Horácio de Moura, Governador Civil de Coimbra, falou-lhe numas reuniões com os presidentes de Câmara do distrito ao que ele respondeu: -já sei! Já li na Voz de Penela”!
Claro está que não me atemorizei e lá continuei a fazer o jornalzito com a sã doutrina como me competia.
Após a morte de Salazar a senhora Maria de Jesus Caetano alojou-se num apartamento que tinha em Benfica e, já idosa, frequentava muito discretamente a igreja dos padres Franciscanos Capuchinhos.
A senhora Maria, uma mulher modesta - como modesto é o lugar em que nasceu nas cercanias de PENELA- a qual sempre soube cumprir a sua importante missão e que colocou Salazar no ROTEIRO DA SUA TERRA.
P. ADRIANO SIMÕES SANTO -Chão de Couce -Ansião
“
Sem comentários:
Enviar um comentário