terça-feira, 12 de março de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

ENTRE AS DEZ E AS ONZE

Poema dedicado às amigas "da bica matinal no Samambaia"


Entre as dez e as onze

Amigas, este ano vai ser assim, num Portugal falido
andas  tu, ando eu, anda tudo combalido.
E tu choras e tu ris, com a esperança abafada.
Trabalhaste, deste o litro, para nada!
Tens os filhos, tens os netos, por ti aguardar.
Sais. Vais ao café conversar com as amigas,
todas elas, como tu, ficando mais antigas.
O dono do café põe-te a ver caranguejos
num programa da TV que até dá bocejos!

Mesmo assim, tu sorris, toda bem aperaltada
fingindo que nem vês nada…
Atenta, gentil, nada deixas ao acaso,
a mala e o sapato a rimar com o casaco.
Às horas, sempre  a correr. Vais pôr a panela ao lume,
lume brando, apurando, sem queixume.
Uma luz ainda brilha nos olhos das enamoradas
que se raspam, de mansinho, saltitando,
coração a gargalhar e sempre, sempre a bombar!
A cabeça prateada, ofegante e cansada,
levantaste de madrugada, a pensar. Na almofada,
na janta, no sável, no melão para os netinhos
e fazes colchas, cortinados com entremeios de carinhos!
Vem uma mana e traz outra, as duas a tagarelar.
São mulheres de sete ofícios que conseguem abraçar,
com o sorriso dos olhos, as mágoas do coração,
calam lágrimas, agigantam, nobre espírito de missão!
E tu, que tão bem fazes um tricot, uma rendinha,
sempre a imaginar, a magicar uma prendinha.
A manta e o cachecol nunca ficam n’ ametade…
Pegas, levas p’ra casa, sempre com boa vontade.
Já ouviste as notícias que te lixam o juízo?
Das que nos colhem impostos, taxas e prejuízos?
Tu lutas e matutas, recalcando o passado,
Não é a vida que querias, a vida que tinhas sonhado!
Pensas,  anotas, o que aos outros deixa indiferente,
aos outros que correm, que atropelam, pisando toda a gente.
Surges, na calma, tentando equacionar as formas de poupar
e, em tempos conturbados, insistes em reciclar!
Aí vens, quando em vez, partilhar nossa amizade.
Vens de longe, sem esforço, com prazer, pois sentes,
nem duvidas, que a vida passa a correr!
Tu, que ficas mais um tempo na caminha,
escutas, observas as “idosas”, caladinha,
mas sabes analisar num mundo que vai torto,
só desejas que, pelo menos,salvem o vinho do Porto!

Eu, que limpo as angústias recheando-as de alegria,
eu que estimo, alimento, cultivo  vossa companhia,
penso, repenso, no feminino, no Dia da Mulher.
Creio na nossa força, num  país de bem-me-quer!
E, o que semeámos, um dia dará flor.
“Entre as dez e as onze”, despertará, um poema de amor.

Coimbra, 8-03-2013
Um abraço em “ rap”
Celeste Maria