quinta-feira, 16 de outubro de 2014

FEIRA DE SÃO MIGUEL PENELA

Por PALMIRA PEDRO  


A FEIRA DE S. MIGUEL

E os anos passam e passam-nos também a nós. Mais um S. Miguel, lembrando-nos que o Outono chegou, e o Inverno caminha para nós a passos largos. Terminam aqui as festas de Verão.

Minha Penela amada, castelo de montanha, pedra e granito poligonal, adaptado à escarpa de quase 100 metros, que te mantém altaneira através dos séculos. Dez? Nove ?- não importa. Para nós que te amamos serás sempre menina e moça. Mantendo usos, costumes e tradições. Mais um S. Miguel se passou. Diferente, muito diferente daquela feira que D. Duarte criou já no 2º quartel do século XV, (1433) feira franca, onde não se pagavam quaisquer impostos para ali poderem vender, mas que se mantém ininterrupta até aos nossos dias. Certamente que nos nossos dias Feiras Francas, só existem no nome. A nossa, já era diferente mesmo há 70 anos quando ali ia, pela mão de minha mãe. Mas recordo muito bem como era. Sempre no dia 29 de Setembro, sem alteração de data, fazia-se dentro da vila, e todas as ruas viviam aquele dia de festa. A Rua principal, desde o começo, que ia da casa do Freire Gravador até à Praça, enchia-se de réstias de cebolas, alhos e couves para plantar, vindas das áreas de Condeixa para ali serem vendidas, depois, a partir do Posto da GNR de um lado e do outro, as mulheres de Montemor, não tinham mãos a medir fritando o peixe do rio, em tabuleiros de lata, com uma fogueirinha de cavacas, e vendiam-no enfiado pelos olhos, numa verga de vime, fazendo a delícia dos que iam à feira, e que, nas saudosas tabernas da Ti’Amélia, da Ti’Maria da Praça, da Ti’Olinda Brásio, do Ti’Joaquim do Redolfo, no Ti ‘Manel Vaz, no Henrique Pança, ou no Diniz, o saboreavam com pão de segunda, e uns bons copos de vinho da nossa região. Uma delícia!! A Praça, abarrotava de tendas de tecidos bonitos, mas bem cuidados, de roupa interior e meias. Bonitas tendas de ouro, em exposição : um cordão, um fio, um anel, ou um relógio, comprava-se no S. Miguel, e ninguém tinha receio de ser roubado. Tendas de bonecas feitas de papelão que depressa se desfaziam, bastava apanharem chuva ou lavarmos-lhe a cara. Mais tarde, apareceram miniaturas em plástico, vestidas de nazarenas, eram a alegria das meninas. Para os rapazes havia carrinhos de lata ou de madeira, flautas ou cornetas, e piões. No tempo em que todos os casais tinham pelo menos três ou quatro filhos imagine-se a alegria para eles nesse dia. Porque um brinquedo, só se comprava no dia de S. Miguel, depois de venderem as nozes, ou outros produtos agrícolas. Vendiam-se também tamancos, botas grosseiras e botinas (um pouco mais finas que as botas) Ao cabo da praça, artigos de madeira, bancos, mesas, malhos, ancinhos, cangas, etc, poceiros cestos, e varas compridas de castanheiros, para varejar a azeitona, uma riqueza das nossas terras. Seguia-se a feira das nozes. Largas centenas de quilos, que carros puxados por bois, ou carroças puxadas por burros, para ali haviam levado de madrugada, eram transacionadas e carregadas em camionetas. As merendeiras, as argolas, e os tremoços eram as guloseimas da feira. E o estica-larica… Lembram-se ? Uma espécie de chupa-chupa…E o vendedor gritava: Olha o estica!! Comprava-se ali também a literatura de cordel, que tanto apreciava. A Vida de Vicente Marujo, a Pastorinha, o Zé do Telhado, o Borda d’Agua, etc. De dia, não havia outro barulho além do característico da feira,. Dª Micas, venha cá!!! Olhe estas meias! Meias de cordão, grossas para o frio, bonitos lenços de cachiné , feitos em Portugal, e os xailes de oito pontas, de merino ou os xailes de fitas, lindos, um luxo naquela época. Mas à noite, havia teatro, ou um ranchinho regional, ou até mesmo um bailarico abrilhantado pela Eugénia Lima, Albino Martins, ou pela Prata da Casa, no nosso velho Clube sito por baixo da Câmara Municipal, mais tarde no atual Clube Penelense, onde as mães